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Amanita muscaria

Impressões de um Boticário de Província

Desde 2003


sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

Somos bons em tudo 

Já repararam que no anúncio do Euro-2004, na praça central, o melhor jogador é o boticário?
É o único que marca um golo. E vejam aquele poder de desmarcação, no ataque, ultrapassando o Padre...

Peliteiro,   às  21:46
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Tédio 

Fui contaminado!
Estou hipo-activo, sonolento, sem ideias, não me apetece fazer nada, um morto-vivo.
Porquê? Porque passei o dia em repartições públicas. De manhã na loja do cidadão de Braga, depois mandaram-me para os serviços centrais da EDP.
Que tédio!
Que tédio!
Um requerimento de Abril do ano passado perdido nas imensas gavetas da burocracia da indecisão. Um dia inteiro e não resolvi nada, ficou tudo na mesma.
Que tédio!
Que tédio!
Não me apetece fazer nada.
Fui contaminado, e agora? Amanhã acordarei normal?

Peliteiro,   às  21:41
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quinta-feira, 29 de janeiro de 2004

O Ministro, afinal, também me lê! 

Em Novembro escrevi sobre os benefícios dos funcionários públicos no acesso á saúde e a injustiça social que isso representa relativamente a todos os outros trabalhadores por conta de outrém.
Hoje, o Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE) vem anunciar que o Governo quer baixar o valor das comparticipações da ADSE.
Não há que ter medo Luís Filipe.

Peliteiro,   às  23:38
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Palavras em desuso 

Inicio hoje uma rubrica que pretende reavivar palavras tendencialmente em desuso.
Muitas destas palavras são - ou foram - usadas no Minho* e constam das minhas memórias de infância.
Fico a aguardar contribuições.


Auguapé: Corruptela de água-pé, vinho novo muito leve.
Bejego de sete coiros**: abcesso purulento hiperqueratósico no pé.
Brunir: Passar ou dar ao ferro.
Cagalhota: Mulher de baixa estatura e pescoço curto.
Capote: Sobretudo.
Cartilho: Corruptela de quartilho, 250 mL de vinho.
Chanca: Bota de madeira.
Debulhar: Descascar, tirar a tona.
Embarrar: Bater ao de leve.
Esgrouviado: Atoleimado, trengo exuberante.
Estrugido: Refogado
Galocha: Bota de cano alto em borracha.
Gandulo: Estroina, tunante.
Jondra: Sostra. Rapariga pouco limpa e asseada.
Jorna: Dia de trabalho, "trabalhar à jorna".
Lanfranhudo: Carrancudo, homem feio e mal humorado.
Lingrinhas: Tísico, rapaz muito magro.
Maçaroca: Espiga de milho antes de desfolhada.
Malota: Corcunda. "O Malota de Nª Sª do Sameiro".
Merendar: Refeição entre o almoço e jantar. Melhor que o anglicismo lanche.
Moto: Motorizada potente, de grande cilindrada.
Patego: parolo, lorpa.
Presigo e conduto: Partes constituintes de uma refeição, sendo o presigo a parte mais nutritiva e o conduto o acompanhamento. Ex. Carne com batatas; a carne é o presigo e as batatas o conduto.
Rachar canhotas: Cortar lenha para o lume.
Remelado: Com sintomas de conjuntivite bacteriana ou disfunção lacrimal.
Sarapintado: Pintado em pequenos pontos ou manchas. De sarampo?
Se- ou Ser-: Prefixo equivalente a Sr. ou Sra.; Ex. SerAbílio ou SerAntone ou SerAna.
Seba: Porca gorda.
O tempo está senso: Está calmo.
Trenguice: Disparate, parvoíce.
Trepa: Coça, tareia, treino.





* As divisões administrativas deviam ser baseadas nas fronteiras naturais que são os rios (julgo que assim era nos primórdios), de modo que em vez de terras Minhotas, aqui se deveria usar terras de entre o Ave e o Lima, porque desta forma se caracterizam - na minha modesta e pouco fundamentada opinião - muito melhor as gentes e as terras.


** Aí com 4 anos, e por ter (e tenho) a mania de andar descalço, tive um bejego de sete coiros que foi lancetado e extirpado, pela SeMaria do SeManel, com uma agulha de coser serapilheira e uma lâmina de barbeiro, desinfectadas no lume. Lembro-me bem!


Peliteiro,   às  22:30
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quarta-feira, 28 de janeiro de 2004

Cinema em casa 

Nunca percebi porque é que as estações de televisão, todas, alinham as suas programações de modo a passarem os filmes em horários tão tardios que ninguém os pode ver.
Ninguém ou quase ninguém.
Na maior parte das vezes também são filmes que não interessam a ninguém. Ou a quase ninguém.
Mas por vezes, filmes interessantes são indicados para começar pela meia noite ou mais. O pior, é que quando são mesmo interessantes nem esses horários aberrantes são cumpridos e os atrasos são consideráveis. E os intervalos intermináveis. É desesperante!
Não percebo a intenção dos directores de programação. Pensei, pensei (devagarinho, claro))), não cheguei a nenhuma conclusão (é normal))), mas enunciei as seguintes hipóteses:

1 - Os espectadores são, assim, obrigados a gravar o filme, vêem-no no dia a seguir e desta forma duplica-se o tempo de atenção dedicado a ver este canal.
3 - Há um pacto secreto, de não agressão, entre as televisões as empresas de distribuição cinematográfica, alargado, recentemente, aos canais de Cabo pagos.
2 - Os filmes nunca têm muita audiência, só uma minoria gosta de ver fimes na TV. Eles querem é telenovelas e funerais em directo.
4 - É uma tradição, sempre se alinharam os filmes em horas tardias, e não é agora, lá porque o dólar está depreciado, que vão mudar aquilo que é um hábito antigo.
5 - Os "clientes" dos filmes são todos uns párias, não trabalham e deitam-se tarde.
6 - É assim porque é assim, ninguém sabe bem porquê.
7 - Queriam ver filmes à borla? Sentadinhos no sofá, a beber um Porto? Nada disso, um almoço nunca é de graça, penem!

Peliteiro,   às  19:39
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Este homem é do Norte... 

"Miguel Cadilhe lamentou o excessivo investimento nos estádios de futebol, assim como na Expo 98"
"A Expo 98 é uma enormidade e o mesmo se pode dizer dos 10 estádios do Euro2004 ou a parte das despesas do Porto 2001, Capital da Cultura, salientou, considerando que se tratam de despesas públicas chamadas de investimento que chocam as famílias portugueses.

"Um país com este estádio de desenvolvimento pode dar-se ao luxo desta afectação de recursos?"

Concordo. Isto não é populismo, é a evidente verdade!

Peliteiro,   às  12:40
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terça-feira, 27 de janeiro de 2004

Urubus 

Eu não disse ontem?
E não se pense que se trata de homenagear a memória do infeliz jogador de futebol. É necrofagia!
O jornal da RTP 1 abriu com 45 minutos (!) sobre o acontecimento. Todo o dia palestras, fóruns, opiniões, palpites, em todos os jornais, televisões, blogues... Ilustres figuras que não resistem à atracção dos holofotes, desfibrilhadores, aneurismas, eco-dopler, cardiopatia hipertrófica, ciência a jorros.
Deus nos perdoe.

Peliteiro,   às  00:25
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segunda-feira, 26 de janeiro de 2004

Femininocracia 

Longe vão os tempos em que os homens saíam para caçar por longas temporadas, saíam para trabalhar de sol a sol, emigravam e só regressavam anos passados, garantindo assim o sustento do lar.
Hoje, no fim de almoço, fui às compras. E, assim como eu, bastantes homens, de carrinho de mão, a comprar arroz, cebolas, leite, umas cervejinhas (que não estavam na lista), Super-pop, Sonasol magic, Calgonit abrilhantador... Já tinha também reparado que nos dias de sol da semana passada, muitos homens tomavam conta dos seus filhinhos no parque infantil, com biberão e tudo, iam ao colégio levá-los e trazê-los, enfim faziam mais que uma mãe extremosa.
Pois é, agora também começa a acabar o tempo da paridade de tarefas, vem aí uma nova era.
Elas são melhores estudantes, fazem cursos universitários e pós-graduações, enquanto que eles vão ao futebol e jogam às cartas. Elas planeiam carreiras profissionais, enquanto que eles vão para os copos e para a má vida. Elas têm uma inteligência emocional mais desenvolvida e uma intuição mais apurada, enquanto que eles são brutos e arrogantes. Ou seja, elas têm bons empregos e eles vão para o subsídio de desemprego.
É uma questão de adaptação. Eles sobreviveram e dominaram até à era industrial. Agora estamos no limiar da era do conhecimento, com a aplicação das novíssimas tecnologias e metodologias de trabalho.
É o fim do patriarcado. É o início da femininocracia.
O futuro é das mulheres, aos homens resta-lhes - rapidamente, antes que sejam "despachados" - iniciar uns cursos de lavores e puericultura, para se profissionalirazem como "Donos de casa". E cara alegre!

Peliteiro,   às  17:39
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Abutres 

Já assisti umas 20 vezes à morte em directo do Fehér. E continuará.
Num país onde não acontece nada, ou se acontece não convém que se saiba, até a morte serve de pretexto para dar circo ao povo.
Deixem-no descansar em paz!

Peliteiro,   às  02:14
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domingo, 25 de janeiro de 2004

Bons velhos tempos 

Coimbra-85




Coimbra-86Latada-86

Coimbra-87

Agradecendo o envio das fotos ao velhão Pedro "Barbas" Amaro.

Peliteiro,   às  20:02
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sábado, 24 de janeiro de 2004

Guimarães: o Retrato da Nação  

Se eu soubesse escrever, e tivesse disponibilidade, escreveria o que o Miguel Sousa Tavares escreveu no Público.
Longe vão os tempos em que as pessoas tinham vergonha e a palavra valia e eram sérias e havia honra.
Agora, é o vê-se-te-safas-que-vale-tudo desde pequenino. Ser espertalhaço ou finório é ser vigarista e caloteiro.
Só nos resta o "Cobrador do fraque" !

Peliteiro,   às  01:32
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quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

A meretriz 

Não suporto o Alberto João Jardim.
Não penso que seja uma meretriz como ele próprio se denomina, parece-me antes um proxeneta.
Sempre a sugar o continénte. De uma forma chantagista e desavergonhada.

Hoje num telejornal vi-o a interromper um ministro, a contradizê-lo, com aquele ar de gozo e de velho senhor feudal. Malcriado, mal educado, boçal!
Por acaso nem gosto do Dr. Morais Sarmento; mas é ministro e uma falta de respeito a um ministro é uma desconsideração, uma afronta ao povo que o elegeu.

Não há quem arranque o Alberto João do cadeirão do poder?

Peliteiro,   às  00:55
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As voltas que o mundo dá 

A revolucionária Isabel do Carmo, velha amiga do Otelo, é agora uma bem sucedida opinion maker da endocrinologia.
Fala-se de obesidade, de dietas, de tiroide, de pâncreas e lá vem mais uma intervenção.

Hoje vi-a na RTP a dizer bem do Xenical, da Roche, e dos seus benefícios, até, na diabetes tipo II.
Um estudo na Suécia e tal e tal... Nada que não se soubesse; o Orlistat é uma boa molécula, não era preciso...

Que bom seria ter o Xenical comparticipado, nem precisava de ser a 100% como os antidiabéticos orais. Mas se for pedir muito, já era óptimo que essa indicação terapêutica fosse incluída na bula do medicamento...

Peliteiro,   às  00:19
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quarta-feira, 21 de janeiro de 2004

Cabinas de meditação 

O que faz as pessoas meterem-se num carro e passearem - quer faça chuva, quer faça sol - num Domingo à tarde, numa estrada congestionada e com as criancinhas aos berros?
O que faz as pessoas irem para o emprego, em pleno engarrafamento, de automóvel, quando podiam ir, confortavelmente a ler um jornal, nos transportes públicos?
O que faz as pessoas irem ao café na esquina do bairro, não a pé mas no seu lindo pópó?
etc, etc.

Descobri-o hoje. Aliás já tinha algumas suspeitas do que estaria na génese (...kitsh) deste epifenómeno (...trengo) da sociedade actual.

Descobri então o quê?
Que uma viagem de automóvel é uma espécie de sessão de meditação transcendental para o povo. Já que não vamos para o divã do analista, vamos andar de carro! Os passeios de carro são o Freud dos pobres. É espantosamente óbvio.
Eu, pessoalmente, já tinha a noção de que quando conduzia - e até detesto conduzir - entrava numa espécie de transe favorável à reflexão: ao fim do dia efectuava uma retrospectiva de tudo o que se passou, em jeito de balanço; de manhã revia os compromissos, as tarefas, a agenda, os projectos; no tempo restante ainda é possível alinhar ideias, estratégias de médio e longo prazo, como vai a vidinha, uns calafrios quando passava pelos problemas, como será daqui a 30 anos, e ainda ideias disparatadas que por muito que se tente evitar perpassam rebeldes, do tipo: terá muita gente no meu funeral? morrerei de enfarte ou de cancro no pulmão?

E como foi o Eureka?
Andava eu, hoje, meio confuso (como quando sentimos aquele desconforto de não saber bem para onde fica o norte -numa cidade desconhecida, ou quando não sabemos se é dia ou noite - estrumenhados num quarto escuro de hotel no hemisfério sul, ou se estamos a beber aguardente ou cognac - numa noite longa, ou se nos agrada mais a mãe ou a filha) quando tive que pegar na minha lata. Já não conduzia há uns dias. Mal rodei a chave da ignição, o motor estrebuchou e - incrível - os meus pensamentos fluíram livre e agradavelmente. Só tencionava fazer um trajecto de cerca de 2 Km; fui pelo caminho mais longo, virei à esquerda, depois à direita, perdi-me, arrancava no sinal verde apenas quando empurrado por uma buzinadela, fui parar a Vila do Conde, vim pelas ruas interiores das Caxinas, fui a Terroso e vim. Novo. Nem uma secretária eficiente conseguiria arrumar tão bem um vendaval de pensamentos. Perfeito.
Amanhã vou a Barcelos. Passear!

Peliteiro,   às  23:47
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Imigração 

Estarei a ouvir bem?
O bloco de esquerda e as associações dos patrões estão em sintonia, discordando da limitação do número de imigrantes proposta pelo governo?
Fantástico!
Os extremos tocam-se, ainda que, concerteza, com argumentos e razões diferentes.

Se houvesse uma associação de boticários de província, a posição seria: imigrantes sim - os que o mercado de trabalho absorverem - mas com regras e controlo - dentro da estrita legalidade, devidamente fiscalizada.

Peliteiro,   às  23:39
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terça-feira, 20 de janeiro de 2004

Pôr do sol 

Esteve um fim de tarde de inverno esplêndido, um pôr do sol magnífco, o mar está lindo, não há vento.
Estou mesmo bem disposto!

Peliteiro,   às  18:49
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Boa educação 

A boa educação não é inata, não se transmite geneticamente.
A boa educação não é só o conhecimento de rituais e salamaleques.
Todas as regras de boa educação tem um só objectivo: a harmonia das relações entre os membros de uma comunidade.
Há indivíduos que se julgam peritos em boas maneiras, mas que são autênticos selvagens pela forma como se comportam no dia a dia. Estes não são pessoas bem educadas, são selvagens transvertidos.
Dois pequenos exemplos, similares, apreciados recentemente, de má e boa educação:
1 - Num grande espaço comercial com falta de lugares de estacionamento. Um casal, com um bébé, abeira-se do carrão, estilo novo-rico. Eu páro e resolvo aguardar. Ela prende, calma e lentamente o bébé na cadeirinha. Tudo bem, eu continuo à espera. Ela acende um cigarro, calmamente, e sem entrar, exala voluptuosas baforadas de fumo. Os meus ouvidos começam, também, a esfumaçar. Ela acaba de fumar (4' 37''), manda a pirisca para o chão e em movimentos lentos e circulares de tacão certifica-se de que o cigarro está bem apagado. Entra. Eu suspiro de alívio, finalmente vou poder estacionar. O marido está a ler um livrito, deve ser o manual de instruções do carro. Não, ainda não é desta que liga o motor, sai e verifica que a mala está bem fechada. Senta-se de novo, coloca o cinto, alinha os espelhos, aperta a gravata, alisa as sobrancelhas, olha para trás, para o bébé, roda a chave e - muito devagarinho - inicia a manobra de saída.
2 - Numa gasolineira, hoje, ia eu levar o Nuninho ao infantário, atrasado como sempre (a D. não sei quantos nem me pode ver, a mim e aos meus atrasos crónicos). Estava mesmo a ficar sem gasóleo e cheio de pressa. Azar, a gasolineira tinha todas as bombas ocupadas. Pior, os carros estavam quase todos vazios e os donos estavam na loja da estação de serviço a olhar para o balão. Milagre, um rapaz, que eu conhecia da praia (mas que nem sabia que era eu que esperava), mal acabou de abastecer, meteu o ombro na porta e empurrou o carro dele permitindo que eu pudesse chegar ao ponto de abastecimento. Quando cheguei à caixa e o cumprimentei disse alto e bom som:
É nos pormenores que se vêem as pessoas bem educadas. Mesmo os que estavam a olhar para o balão perceberam!

Peliteiro,   às  17:51
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domingo, 18 de janeiro de 2004

Comunicação 

A comunicação humana é complexa, não é feita apenas de voz, é-o também de gestos, expressões, olhares, enfim, uma intricada e complexa teia de códigos.
E depois há estilos, há estereótipos. Alguns ridículos!
Bom, mas o queria dizer, deixando-me de intróitos, é que me irrito profundamente quando estou a falar com alguém e esse alguém tem por hábito tocar-me. Seja homem ou mulher, não é uma questão de sexos.
Há pessoas que falam connosco e têm a mania de bater nas costas, bater no peito, dar palmadinhas interjectivas, meter o dedo no esterno, amarrar a mãozinha (às vezes húmida como uma faneca), ocupar o nosso reduto. Apetece-me logo fazer como o cão que tem que partilhar a gamela com outro, por mais companheiro que seja: rosnar!
Tinha um amigo do clube "espeta o dedo no esterno em tom afirmativo" que quando falavamos num passeio, logo eu ficava esmagado contra a parede, depois trocava e era progressivamente empurrado até que o espelho de um autocarro me fazia levantar o penteado, depois trocava outra vez, "and so on".
Aqui temos matéria para um estudo psicológico.

Peliteiro,   às  22:59
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Telefonemas 

Estive a fazer um registo estatístico nas últimas duas semanas, e muito embora a amostragem não seja muito significativa, apurei os seguintes dados:

43% dos telefonemas são para me importunar;
22% são más notcias (ainda que sem gravidade, felizmente);
17% são para me pedir "fretes";
11% são assuntos inclassificáveis, trenguices e etc;
3% são boas notícias (ainda que não me façam abrir uma Luís Pato);
2% são pessoas que querem saber como vai tudo, simpáticas e agradáveis;
1% são convites para jantares, festas;
1% é engano!

Ainda no que respeita a horários:
33% acordam-me;
12% interrompem-me o jantar;
7% não atendo porque estou a meio do meu ritual de ablução;
6% vou a conduzir;

Ou seja, tudo isto faz com que deteste telefones e telefonemas. Quando eles tocam fico logo com o sobrolho carregado. E sintomático de que inconscientemente relaciono o telefonema a situações desagradáveis, como trabalho, é que ainda atendo muitas vezes a dizer: Farmácia da Boa Hora...
Só tenho telemóvel há um ano e pico, fui dos últimos resistentes. Ou melhor, fui dos primeiros a aderir à telefonemania, mas nesses longínquos tempos levei o aparelho para a praia e uma onda levou-mo; desde aí e sentindo que aquilo não servia para grande coisa, nunca mais comprei outro. Agora estou ansioso que venha outra onda!
Coincidência! Juro! O telefone está a tocar! A esta hora só pode ser frete. Não vou atender!

Peliteiro,   às  22:49
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Quem diz o quê 

A modo de balanço, aqui vão as ligações para os blogues que comentaram (e eu saiba) o tema "Póvoa do Ave", ordenados pelas datas da minha leitura: Rio Ave; Lápis de cor; O Vilacondense; Vila do Conde-quasi diário; Blogame mucho e Coisas do Gomes

Peliteiro,   às  22:35
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sexta-feira, 16 de janeiro de 2004

Póvoa do Ave; 2030 

"Taimes"; 15 de Janeiro de 2030

A partir de hoje, a cidade de Póvoa do Ave é a única cidade do mundo capaz de suprir a totalidade das suas necessidades energéticas utilizando exclusivamente energias renováveis.
Finalizado este projecto pioneiro - baseado na obtenção de energia "limpa" a partir da natureza: solar, eólica, marítima - a Póvoa do Ave assume-se, cada vez mais, como o polo urbano mais importante do norte de Portugal. Aproveitando a proximidade das grandes cidades Galegas - 5 minutos de táxi aéreo e 20 minutos em carril - e a estagnação das degradadas Gaia e Porto, a Póvoa do Ave desempenha um papel de cada vez maior relevo na panorâmica Ibérica.
Conhecida como a "Beverly Hills" da península Ibérica pelo seu clima temperado, suas paisagens e praias limpas e descontaminadas, mas também pelas suas luxuosas vivendas em Beiriz e Laúndos; pelas mansões senhoriais de Junqueira e Malta; pelas marinas e infra-estruturas marítimas; pelos magníficos e omnipresentes espaços verdes planeados pelos melhores arquitectos paisagistas; pela imponente marginal à beira mar - entre Estela e Árvore -, implantada depois da demolição da maior parte dos horríveis edíficios aí existentes, repleta de animação e "glamour", com fantásticos hóteis, restaurantes, teatros, galerias de arte, esplanadas sobre a avenida pedonal e uma panóplia de equipamentos de lazer e cultura.
Esta importante e moderna cidade merece também destaque na área económica, dada a sua ascensão fulgurante no panorama internacional. A isto não é estranha a preferência dos gestores e investigadores de topo mundial - num quadro de crescente insegurança e poluição global - pela permanência neste território que foi adquirindo uma forte imagem de oásis Europeu. Os polos de alta tecnologia surgem em ritmo acelerado e a disputa por concessões de instalação são fortíssimas. Impressionante também é a zona financeira, instalada na Praça do Almada e imediações, qual "Wall Street" Portuguesa, com sedes dos grandes grupos bancários, corretoras, edifícios majestosos de "private banking", fundações, bolsa...
Para um futuro breve - e muito pela influência e empreendorismo do actual Governador, o jovem e dinâmico Miguel Sampaio Peliteiro, com apenas 34 anos - espera-se a instalação do maior complexo de estúdios e produção cinematográfica do mundo, resultado da fusão das três maiores companhias cinematográficas, que transferem a sua actividade de Holywood para a Póvoa do Ave, num investimento global de muitos milhares de milhões de euros, a criação de 9.000 postos de trabalho altamente diferenciados e um impacto de 5% no PIB nacional.

Peliteiro,   às  14:38
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quarta-feira, 14 de janeiro de 2004

Pressões sobre a Justiça 

O que me irrita mais nos tipos de esquerda (e nos Benfiquistas) é que têm a mania que são mais espertos que os outros todos.
E eles é que são os donos da razão, quem não tiver a mesma opinião é porque é parvinho, pouco esclarecido, pouco culto (a cultura é um guarda-chuva onde cabe toda a tralha), bronco, enfim, um nado-quase-morto.

Vem isto a propósito de:
"Vários deputados dos partidos de esquerda voltaram ontem a manifestar-se frente ao Tribunal de Aveiro. Representantes de várias organizações cívicas, sindicais e políticas ... Bernardino Soares, ...Miguel Portas, ...Ana Gomes... não se cansa de demonstrar a indignação com o julgamento."

Ora isto não é uma forma de pressão sobre a Justiça, concretamente sobre o Tribunal de Aveiro? Não pode isto influenciar o livre curso do processo, os juízes, os procuradores, as testemunhas?

Então a legislação aprovada pelo Parlamento, onde aqueles Senhores Deputados exercem funções em representação do Povo, deveria ser simplesmente ignorada, ou contrariada, pelo Tribunal?

Gostava de ver a reacção dos intelectuais du café da esquerda se o cenário fosse o inverso.

Peliteiro,   às  23:23
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Presidente da República 

Jorge Sampaio perfaz hoje 3 anos do segungo mandato no exercício de funções de Presidente da República.
Se porventura ele tivesse estado a banhos na República Dominicana ou na Costa Rica, o que teria mudado em Portugal?
Nada!
Se porventura ele tivesse estado todos os dias a discursar e a intervir através de todos os modos possíveis e imaginários, o que teria mudado em Portugal?
Nada!
Então para que serve um Presidente da República?
Para nada!
No âmbito da campanha: Menos Estado, melhor Estado.

Peliteiro,   às  22:52
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Aborto 

Vamos iniciar uma fase em que se vai, de novo, discutir a despenalização do aborto, eufemisticamente denominado interrupção voluntária da gravidez.
Como tenciono escrever uns textos sobre o tema, antes de mais, queria definir as minhas convicções e conceitos, por uma questão de lisura e transparência:

- Sou contra o aborto por razões anticonceptivas.
- A vida humana inicia-se no momento da formação do ovo.
- No último referendo sobre esta questão disse: Não.

Peliteiro,   às  18:15
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terça-feira, 13 de janeiro de 2004

Estou de baixa 

Resolvi dar baixa a mim mesmo.
Durante uns tempos não vou trabalhar, andava muito cansado.
Trabalhei 16 anos a um ritmo de Japonês; hoje adoptei o sistema Português: acordei ao meio dia, agora almoço calmamente, dou um passeio higiénico junto ao mar, venho a casa arrumar o escritório e resolver pendentes de há séculos, depois, ao fim da tarde: piscininha e banho turco.
Amanhã logo se vê.

Peliteiro,   às  12:58
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segunda-feira, 12 de janeiro de 2004

Póvoa do Ave 

O último texto, sobre os jornais, entidades privadas, leva-me a abordar uma questão que não é aqui inédita.

Porque não uma única cidade, resultado da "fusão" da Póvoa de Varzim com Vila de Conde?

Não existindo barreiras nem limites geográficos, as duas cidades confluem numa continuidade irrepreensível e as fronteiras são percebidas apenas pelos próprios habitantes. Esbatidos os bairrismos pelas migrações abundantes entre as populações - não há ninguém que não tenha família e amigos "no outro lado". Contabilizando os benefícios para as populações, resultado de uma maior influência e poder de reivindicação. Sabendo da redução de custos e da melhoria de serviços públicos que uma decisão destas acarretaria - para quê dois tribunais, dois hospitais, duas câmaras, duas polícias municipais, dois serviços de recolha de lixo, etc, etc, quando se poderia ter um só, mas bom.

Tem toda a lógica, é natural, é o curso normal da evolução das urbes modernas, e é inadiável - para bem das populações. Razão ou coração. A Póvoa do Ave podia ser pioneira, um exemplo para o país.

Mas isto será do agrado dos políticos locais? Quererão perder os seu quintais?

Peliteiro,   às  01:07
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Jornais 

Descobri ontem que saiu uma breve referência ao "Impressões de um boticário" na penúltima edição de um jornal da terra, o A Voz da Póvoa.
Curioso o facto de sendo um jornal da Póvoa ter como início do texto: "Em Vila do Conde, os blogs estão definitivamente na moda." E todo o texto fala dos blogs da "Bila".
Termina o texto com: "Também a Póvoa tem os seus blogs, mas em menor número que em Vila do Conde. Trenguices - Impressões de um Boticário de Província é um deles." Um parágrafo para toda a Póvoa!
Talvez haja poucos blogues na Póvoa. Não sei. Não sou grande leitor da blogosfera.

O que sei, é que os jornais da Póvoa, piscam muito o olho aos leitores de além Caxinas. É a ditadura do mercado, realmente faz mais sentido editar um jornal regional que se dedique às notícias de duas cidades que de uma só. E os jornais são privados, não podem dar-se aos luxos do bairrismo.

Peliteiro,   às  00:13
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domingo, 11 de janeiro de 2004

Eu adoptei 

Os blogues não são só trenguices.
Também os há cumprindo nobres missões.
É o caso do "Eu adoptei": Alegrias, dúvidas e angústias durante o processo de adopção. Desafios da educação após esta etapa.
Pretende-se ali criar uma campanha de sensibilização para que se promova um debate profundo, sobre o futuro da “adopção de crianças” em Portugal, concretamente:
- As obrigações do Estado perante as crianças abandonadas e em risco;
- Criação de um Portal na Net com todo o tipo de informação para facilitar a adopção;
- Criação de agências de adopção;
- A adopção de crianças estrangeiras;
- A adopção e a sociedade civil;
- Que meios serão necessários para implementar a nova lei;
- A humanização e apoio mais eficiente, pré e pós adopção.

Sendo eu sensível a esta problemática, e reconhecendo erros e incongruências, dificuldades e burocracias sem sentido nestes processos, aqui vão os meus 100% de disponibilidade e solidariedade.



Peliteiro,   às  22:21
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quinta-feira, 8 de janeiro de 2004

Heads of Agencies 

Um link interessante para Farmacêuticos: Heads of Agencies, com ligações às várias agências europeias reguladoras do medicamento e outros sítios relacionados.

Peliteiro,   às  23:42
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Mar bravo 

Acordou o Nuninho e veio visitar-me. Quando cheguei para jantar já ele estava a dormir. Coitado, mal me conhece, tenho que me reformar para passar mais tempo com ele, ensinar-lhe como se faz uma cabana, como se apanham grilos, como se rouba fruta ao vizinho e, pouco mais; também não sei fazer mais quase nada que lhe possa interessar, talvez fazer uma fogueira ou trepar a árvores. Se calhar coisas um pouco fora de moda para uma criança urbana de 4 anos, não?

Ele acordou porque o mar está bravo. Está maré baixa e as ondas estão pequenas mas violentas, rancorosas, espumosas. E fazem um barulho surdo, parecem o barulho dos motores de um avião em ponto morto (não se deve dizer ponto morto, num avião, mas não faz mal). Qual vidros duplos. Ainda por cima está uma forte ventania Oeste. Um vento raro. Quando está mesmo muito forte, o vento oeste, estou sempre a ver quando uma vidraça se projecta (como nos filmes) direitinha para cima de mim, deitadinho na minha caminha. É a força da natureza!

Anda Nuninho, vamos dormir, não te habitues a deitar tarde como o teu pai, é muito tarde, muito noite, sim, ainda falta muito para amanhã.

Peliteiro,   às  23:34
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Espanhois 

Ouvi mais uma entrevista ao treinador do Benfica. Em puro castelhano. Já aqui tinha escrito sobre isso.
Lembrei-me entretanto de um diálogo que tive com um empregado espanhol, há uns anos, num bar de S. Xenxo:

- Queria uma Fanta.
- ahn?
- Una Fanta.
- ahn?
- Quéria una Faanta.
- ! (cara de parvo)
- Quéria una Fánta!
- !
- Una Fáááánta, carago!!!
- !
- !
- !
- Fanta, Coca Cola, Pepsi, caña, água, viño, qualquer coisa, tiengo sede, não percebes?
- ha, una Fanta, mui bien, un minutito por fabor.
- Asno, gracias!

Peliteiro,   às  23:28
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Letras 

Ia eu a entrar na 5 de outubro quando vejo, no alto, um contentor enorme com o seguinte logo: DST.
Pensei, então o que é isto, Doenças Sexualmente Transmissíveis, escritas numa construção pré-fabricada? Não tenho conhecimento de nenhuma campanha em curso, por acaso bem preciso era! Será um pavilhão do Ministério da Saúde para divulgar os perigos das DST? Aqui? Que estranho!
Só quando me aproximei é que pude ver que era o estaleiro de um empreiteiro de obras públicas cujo nome começa por aquelas letras!

Logo de seguida, ia eu a pensar numa amiga minha, a Laura, quando quase sou abalroado por um autocarro dos SCTP. E não é que no painel frontal onde está inscrito o destino estava escrito LAURA!! Isto é o poder da mente, pensei eu, devo ter um dom!
Reparei melhor, e afinal no painel estava escrito era LAVRA. Estou a ficar gágá!

As minhas impressões estão a reduzir-se cada vez mais a pensamentos de estrada. É mau sinal. Vida monótona e rotineira? Tenho que dar um abanão a isto, vou emigrar para a Gronelândia e dedicar-me à pesca de bacalhau.

Peliteiro,   às  23:25
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quarta-feira, 7 de janeiro de 2004

Competência e profissionalismo 

Há uns meses atrás memorizei no meu telemóvel um número que aparecia inscrito, em letras gordas, numa carrinha que prestava assistência na IC1. Memorizei-o com a designação "Brisa". Pensei, pode vir a ser útil, estou sempre a ficar sem gasóleo e, além disso, a carripana já fez quatro anos, mais dia menos dia, há-de deixar-me ficar mal.

Ora, hoje á noite, vinha do Porto quando no fim da Ponte de Leça, imediatamente antes de entrar no troço de estrada que está em obras - há que séculos -, estavam dois carros parados na faixa da esquerda, mal iluminados e com algumas pessoas, ao que me pareceu, a tentar mudar um pneu. E digo ao que me pareceu, porque quase que nem os via! Não os via porque vinha em despique com um Ferrari, a cerca de 200 Km/hora. Mentira, isto é apenas uma pitada de ficção para o texto não ser tão enfadonho...

A verdade é que aqueles carros parados, naquele sítio, constituíam um perigo para o tráfego e, sobretudo, para os seus ocupantes apeados. Resolvi intervir, assim me ditou a minha consciência cívica, e lembrei-me daquele número da Brisa. Seria importante que alguém viesse ajudar e sinalizar devidamente aquele foco de perigo.

Liguei então para o 808201423.
- Istoum!
- Sim, é da Brisa?
- Istoum!
- É da Brisa?
- Nom, é da oohocut.
Não se ouvia nada, do outo lado uma voz sonolenta e arrastada de um homem, que pouco sobressaía no meio do ruído de fundo, uma televisão com o som alto e uma mulher a tagarelar, possívelmente também ao telefone.
- Donde fala?
Digo eu em voz alta, já meio irritado.
- É da oohoohcut
Dizem do outro lado, num tom um pouco mais alto, mas ainda arrastado, ininteligível.
O que é que este morcom estará a dizer? Penso eu. Parece uma casa particular, mas não pode ser, é um número começado por 808, ter-me-ei enganado? Mas passados breves instantes um relampejo fez-me dizer, alto:
- Da Euroscut?
- Seim.
E agora? Sei lá o que é a Euroscut, será o mesmo que Brisa? Conheço este nome dos jornais económicos, deve ser uma participada, fazer parte da holding, da SGPS, uma coisa qualquer parecida, vou tentar a minha sorte, embora já esteja quase na Póvoa e os rapazes já devam ter acabado de mudar o pneu, ou então já levaram com um camião em cima, mas aqui vai:
- Queria participar uma ocorrência na IC1, é consigo (seu morconzola)?
- Seim.
- Olhe é assim e assim naquele sítio, mais para a frente, mais para trás, está-me a ouvir?
- Seim.
- É um lugar muito perigoso, é urgente, percebeu?
- Seim, ubreigado.

Acredito mesmo que a minha chamada serviu para alguma coisa, afinal vale mesmo a pena esforçarmo-nos para tentar mudar o mundo para melhor, ser interventivo e tentar ajudar.
A esta hora deve estar a chegar à Ponte de Leça uma carrinha branca, aparatosa, com o número 808201423 inscrito em letras bem gordas.

Peliteiro,   às  23:33
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terça-feira, 6 de janeiro de 2004

A dois 

A primeira impressão do novo canal da RTP não é muito apelativa. É tudo verde!
Não é carne nem é peixe. Aliás no teletexto da RTP, hoje, continua referida como RTP-2.
É mais uma lição de falta de coragem ou de força política.
Ou se fechava o canal ou se vendia. Assim fica tudo na mesma. Prejuízos e audiências residuais.

Peliteiro,   às  23:36
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Velharias 

Ofereceram-me hoje uns livros magníficos. A "Pharmacopeia Geral para o Reino, e dominios de Portugal", publicada por ordem da Rainha Fidelissima D. Maria I, e o "Formulaire magistral" de O. Martin, publicado em 1908.

Deles retirei duas fórmulas afrodisíacas:

COZIMENTO DE PONTA DE VEADO COMPOSTO
R. de rafpas de corno de veado,
Miolo de pão de trigo, ana huma onça
Agua da fonte quatro libras

Ferva até que fique em duas libras. Coe-fe e diffolva-fe de
Gomma Arabia duas oitavas
Affucar branco duas onças


SIROP APHRODISIE

Caféine 6gr.
Benzoate de soude 7gr.
Teinture de kola 20gr.
Extrait de quinquina 10gr.
Vin de Banyuls (ou de Malaga) Q. S. p. 1 litre

Peliteiro,   às  23:13
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Edite Estrela condenada 

"A ex-presidente da Câmara Municipal de Sintra Edite Estrela foi esta terça-feira condenada ao pagamento de seis mil euros ou 133 dias de prisão pelos crimes de violação dos deveres de neutralidade e imparcialidade e de abuso de poder. A ex-autarca já anunciou que pretende recorrer desta decisão." in Jornal Digital.

Ouvi as declarações da senhora ao jornal da Sic-notícias e fiquei completamente esclarecido sobre o respeito da socialista pelas decisões dos tribunais.

Diz ela que no tribunal se fez "distorção do contexto"; "os testemunhos foram adulterados"; "houve parcialidade" "o juíz presidente teceu considerações" e portanto vai recorrer. Também, hoje em dia toda a gente que tem dinheiro para pagar a advogados recorre...
Continuar deputada? Porque não! Sai fragilizada deste processo? De maneira nenhuma...
Diz ela!

Peliteiro,   às  23:12
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Serviço Público 

A televisão pública retirou-me o serviço público mais importante: as notícias das 22.
A mim e ao povo trabalhador deste país.
Sim, porque um trabalhador que se preze nunca chega a casa para jantar antes das 22!
E agora como me informo sobre o que se passa no país e no mundo?

Peliteiro,   às  00:15
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Resistência à mudança 

Aderi, tardiamente, ao ADSL.
As minhas contas de telefone, que começaram em verbas modestas, começaram a atingir valores bem elevados.
Mas eu e o meu velho PC - versão máquina de escrever com software windows - não nos adaptamos facilmente a estas modernices. Já perdi imenso tempo, criei novas identidades, baralhei palavras-passes, perdi imeiles, arranquei e rerranquei dezenas de vezes, enfim uma desgraça.

Peliteiro,   às  00:15
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Casa dos Bernardos 

Descobri uma casa de turismo rural, no Gerês, bem simpática.
Investiguei as redondezas de Vilarinho das Perdizes, porque vezes haverão em que nem toda a gente caberá lá na minha cabana de montanha.
E encontrei a Casa dos Bernardos, encravada no meio de uma pequena aldeia serrana. Parece ser confortável, atendimento simpático, quartos espaçosos e preços muito bons para a zona.
O planalto do monte de Sª Isabel é magnífico para umas caminhadas revigorantes e a paisagem agreste, de rocha e verde, é esplêndida para calmas meditações.

Peliteiro,   às  00:09
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sexta-feira, 2 de janeiro de 2004

Cordelinhos, mãos e cunhas 

O mundo evolui rapidamente, a sociedade, a tecnologia, os usos e costumes, mas por cá, há coisas que nunca mudam. Tudo na mesma como a lesma.
Temos que mexer os cordelinhos, untar as mãos ou meter umas cunhas se queremos que os assuntos realmente andem, se resolvam, tenham um fim, não fiquem empatados...
A técnica é sempre a mesma, baseia-se na impaciência, na ansiedade ou na necessidade de quem precisa que algo se resolva. Um processo, um projecto, um deferimento pode penar durante meses no fundo da gaveta de quem detém o poder de decidir ou de despachar. E chega um momento em que quem precisa, se vê obrigado a implorar ou pagar, ou os dois, para que a "coisa ande e desande".

No "Público" Local de hoje li uma notícia que me irritou profundamente: "EDP completou a auto-estrada da energia do Alto Minho", "Electricidade chegou apenas esta semana às brandas de Bosgalinhas, Gorbelas e Junqueira, os últimos lugares do distrito de Viana do Castelo a aceder à luz pública".

Mentira!

Comprei, há mais ou menos dois anos, umas ruínas de uma casa de montanha, numa aldeia isolada e inabitada - Vilarinho de Perdizes - no cimo de um dos montes da serra do Gerês.
O sítio ideal para escrever as minhas memórias.
Andei de "maço pa cabaço" com o projecto, exigências, limitações, área protegida, zona ecológica, pedra da região, telha de não sei o quê, madeira de não sei bem onde. Muito bem, acho bem, desde que não seja a única "vítima".
O projecto lá foi aprovado na Câmara de Terras do Bouro e de imediato requeri um contador de água e de energia eléctrica para começar as obras.
Isto em Fevereiro de 2003!
Adjudiquei a obra, e lá entram os pedreiros... precisamos de energia para o martelo eléctrico. Vêm os trolhas e... a betoneira é eléctrica.
O que diz a EDP? Não diz nada! Quem diz é o electricista, que a potência do ramal que passa na aldeia não dá nem para um berbequim quanto mais para um martelo eléctrico, não dá nem para uma fritadeira quanto mais para uma betoneira...
Ora, isso cheira-me a acréscimo de custos, não? Claro, temos que alugar um gerador a gasóleo...
Vou reclamar outra vez, isto não pode ser.
E assim foi andando a obra. Os marceneiros precisam de luz, senão têm que abandonar a obra às 16H !
Enfim, a casa ficou pronta, agora, no fim de 2003.
Está bonitinha e acolhedora. Simpática.
Mas continua sem energia, logo sem água - nem quente nem fria - sem frigorífico, nem TV, nem aquecimento, nem luz. Ou seja, óptima para fazer campismo.
O mesmo para a dos meus, entretanto, vizinhos que ali investiram.
Por acaso não investi com intenção de a alugar, fazer turismo rural, não pedi subsídios, nem empréstimos e não tenho a pressão do retorno do investimento.

A EDP nunca se dignou a dar-me qualquer informação, nunca sequer respondeu ao meu requerimento. Nada! Silêncio absoluto! Não existo!
Da última vez que enviei uma reclamação ligaram-me, muito simpáticos, da gestão de clientes, uma menina muito agradável, tipo "daqui fala a Marta", e lá contei a história, pela milionésima vez: olhe que queria lá fazer a passagen de ano; sem dúvida, ainda falta muito tempo, vou resolver já este problema....

Será que terei a honra de ter uma casa na última aldeia do país a ser electrificada?

Peliteiro,   às  23:25
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quinta-feira, 1 de janeiro de 2004

Hipnose 

Gostava de fazer um curso de hipnose.
Ando aqui a pesquisar na net, em Portugal, e não vejo nada que me pareça credível.

Peliteiro,   às  22:36
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Contabilistas 

A maior praga do fim do ano são os contabilistas.
E faltam-me estes documentos, e a conta não sei quantos do POC não está bem, e mais isto e mais aquilo, e as existências, e a margem bruta, e tem que estar pronto até ao fim de semana, é urgente, não pode ser assim...

Peliteiro,   às  22:23
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Pedófilos 

Deve ser difícil, muito difícil, reunir provas para os crimes de pedofilia.

Mas há pedófilos em Portugal. Há há!

Peliteiro,   às  22:16
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O tempo não pára 

Dali.


O meu professor de anatomia, Profº Simões de Carvalho - se bem lembro, dizia que o corpo humano era um todo, complexo e homeostático é certo, mas um só todo. O homem, na sua imensa ignorância, é que o tentava dividir em partes, classificando-o em aparelhos e orgãos, para deste modo mais facilmente atingir o seu conhecimento.

Com o tempo passa-se o mesmo. O homem divide o que é indivisível, fracciona o tempo em anos e horas, para tentar assim controlar melhor o tempo da sua vida, memórias e projectos.

Mas o tempo não pára, tem estações mas não tem apeadeiros!
Dali.

Peliteiro,   às  21:57
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Ano novo, vida nova 

Este ano é que vai ser. Vou ser um bom rapaz, organizado, menos preguiçoso e dorminhoco, vou fazer coisas que ando para fazer há anos, vou arrumar o escritório, as papeladas, vou cuidar da forma física, ir à piscina, ao Karaté, ao ginásio, vou ao médico, fazer uns exames (toque rectal é que não!), umas análises, vou acompanhar mais os meus rapazes, comer menos presunto e queijo da serra, menos copos, vou acordar e deitar mais cedo, procurar mais os amigos e telefonar-lhes e visitá-los, estudar mais, quem sabe fazer uma nova pós-graduação, ler muitos livros, ter mais cuidado a conduzir, levar o carro às revisões a tempo e horas e, mais que tudo, perder menos tempo com trenguices.

Peliteiro,   às  21:51
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ARQUIVOS

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